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Dioniso é a divindade helênica ligada à vegetação, fecundidade, natureza, às forças da terra e ao vinho (TRABULSI, 2004, p 21). Esse deus das vinhas se mostra sempre como um andarilho, e parece odiar o sedentarismo, pois sua ação nômade é vivenciada em suas vertentes mitológicas. É um deus que, quer ser reconhecido com tal e não mede esforços para isso, lutar contra essa sua vontade sempre trouxe a tragédia ( DETIENNE, 1988, p 8).

Pensar em Dioniso nos faz lembrar das festas, das orgias, do falo, da loucura (manía), do êxtase e também da dança. Mas, em nossas lembranças esses elementos trazem à mente, mais ainda, o deus Baco com seu bacanal. Não é pôr a caso que ressalta Marcel Detienne, Baco é um deus vivo, enquanto Dioniso parece, hoje, um pouco intelectualizado (DETIENNE, 1988, p 7).

Mas afinal, quem é Baco? O deus do vinho romano ou romanizado? Na verdade não. Baco é uma divindade grega não romana. Baco é um dos epítetos de Dioniso, que surgiu na literatura grega a partir do século V a.C com Heródoto e com Sófocles em o Édipo Rei. A palavra bacante, que era utilizada para designar as seguidoras de Dioniso, seria derivada desse epíteto (BRANDÃO,2009, 117).

Para os romanos, o deus associado ao vinho é o Liber Pater ou somente Liber, conhecido ainda como Líbero. Liber, segundo Pierre Grimal, é o deus ligado a vinha e ao delírio místico dos latinos que foi identificado com Dioniso (GRIMAL,2011, p 278). Na época da helenização de Roma e do sincretismo religioso greco-romano, o Liber foi suplantado por Baco. (BRANDÃO,2009, 117). Grimal aponta ainda que Liber, por significar livre foi relacionado com um outro epíteto de Dioniso, Lieu, que significa libertador ou “aquele que desata” (GRIMAL,2011, p 278).

Dessa forma, percebemos que é necessário cautela quando tratamos de associações de divindades e analogias religiosas. Pois, as divindades romanas são compreendidas, muita das vezes, como meras assimilações dos deuses gregos, o que não é verdade. Mesmo com essas identificações cada uma das sociedades, tanto a helênica quanto a romana, tinham divindades próprias e particulares.

 

Referências bibliográficas:

  • BRANDÃO, Junito de Souza Brandão. Mitologia Grega. In_____ Dioniso ou Baco: o deus do êxtase e do entusiasmo. Vol. II. Ed. 18ª. Petrópolis: Editora Vozes, 2009. p 117- 146.

 

  • TRABULSI, José Antonio Dabdab. Dionisismo, Poder e sociedade. - na Grécia até o fim da época clássica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004.

 

  • DETIENNE, Marcel. Dioniso a Céu Aberto. Rio de Janeiro: Erudição e Prazer, 1988.

 

  • GRIMAL, Pierre. Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

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