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04 mai 2017

Nos tempos do internamento: historias contadas por acometidos pelo mal de Hansen. Hospital-Colônia São Roque – PR

Imprimir em PDF | Por: Jason Jr. Comentários

Esta é uma resenha do artigo "Nos tempos do internamento: historias contadas por acometidos pelo mal de Hansen. Hospital-Colônia São Roque – PR (1960 -1980).", originalmente publicado por Vera Regina Beltrão Marques, Farmacêutica bioquímica, Doutora em História e Mestra em Educação.

 

Considerados asquerosos, pecadores e de comportamento duvidoso, leprosos foram enclausurados em hospitais, denominados leprosários e condenados à segregação social e espacial.

 

No leprosário São Roque, o espaço arquitetônico representava, além dos aspectos humanitários, o espaço médico, cientifico, racional e de controle.

 

Com geometria de fortaleza, a colônia construída em torno do Hospital era uma verdadeira cidadela de exclusão. A partir de maio de 1962 o internamento obrigatório deixa de vigorar, mas ainda assim havia casos no Brasil.

 

A autora trabalhou com a história de cinco personagens, dividindo-os em duas partes. Trabalhando os quatro paranaenses e de histórias semelhantes, na primeira parte. Deixando para a segunda parte, uma 5ª personagem.


Detê-los significava isolar sumariamente, pois a lepra mutila o individuo e deforma-o, de uma a quatro décadas.

 

No Hospital o leproso fica entre à sua fatalidade, tratado como doente, improdutivo, tendo como preocupação exclusiva a doença. Para aqueles que tinham dinheiro, o tratamento era domiciliar, podendo ser isolados em suas casas e eram fiscalizados por autoridades sanitárias.


O próprio Oswaldo Cruz em 1910, indicava o isolamento em colônias como mais convenientes, do que simplesmente um Hospital.

 

O internamento compulsório passava a ser questionado, desde o Congresso de Leprologia em 1958, em Tóquio. A autora destaca que muitos pacientes foram internados, em forma de captura, pela policia.

 

 

Vera Marques, nos mostra que algumas pessoas procuravam o isolamento por terem sido rejeitadas pela família e pela própria sociedade, sentindo-se inúteis e literalmente abandonadas pela família. Por vezes as famílias não podiam visitar os internos, por falta de recursos monetários.


Destacando que, apesar de alguns morrerem (cerca de quatro pessoas) por dia, os internos tinham festas, missas, aulas e até cinema, dependendo da colônia. As cercas eram vigiadas e os pacientes usavam os uniformes fornecidos pelo próprio Hospital.


Os enfermos plantavam, colhiam, cuidavam do jardim e limpavam o hospital e a cadeia local. Assim diminuindo a sensação de inutilidade e as despesas do Hospital na manutenção da colônia.


A autora relata que os internos namoravam e até mesmo casavam entre si. Assim como tentavam fugir e traficavam bebidas alcoólicas, e por vezes eram presos dentro da cadeia interna.


Crianças não podiam ficar no Hospital, algumas internas chegavam a dar a luz dentro da colônia, mas as crianças eram separadas das suas mães e levadas para o educandário de Curitiba, onde eram ensinadas a ter uma profissão.


Quando o Hospital colônia acabou, os internos tentaram ganhar a vida “lá fora”, a maioria deles continua vivendo nas proximidades do, hoje, Hospital de Dermatologia Sanitária. Assim dependendo do auxilio do hospital de do clero católico ( que comandava a antiga colônia São Roque).

 

Apesar de alguns terem conseguido alta hospitalar, por curar-se da hanseníase, eles ainda não se sentem curados.


Na segunda parte do capitulo, Marques relata a história de Dide, uma índia que foi extremamente miserável, mãe solteira, renegada por ser leprosa e vitima de racismo. Mas dona Dide conseguiu passar pelo leprosário e sair dele, mesmo com toda rebeldia. Casou-se com um homem saudade e teve mais dois filhos.


Apesar de ter sido excluída dentro da própria colônia São Roque, onde foi colocada em um quarto isolado, por ser mãe solteira, as freiras a consideravam uma ameaça para as moças e um desrespeito com as senhoras.
Ela também nos diz que os internos desenvolveram vícios, de beber e fumar. Eles acreditavam que a bebida e o fumo, matariam o “bicho”, ou seja, o mal de Hansen.


Por fim, Dide, ajudou a criar e hoje é uma das pessoas mais importantes do Movimento de Reintegração do Hanseniano – MORHAN. Que visa reintegrar os enfermos à sociedade e luta contra o preconceito.

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