O Cerco a Bagdá, ocorrido em 1258, foi um dos eventos mais catastróficos da história islâmica, marcando o fim da Era de Ouro Islâmica e o declínio do Califado Abássida. Este evento foi parte da expansão do Império Mongol, que, sob a liderança de Hulagu Khan, neto de Gengis Khan, devastou grande parte do mundo islâmico.
O cerco não apenas resultou na destruição de uma das cidades mais importantes do mundo medieval, mas também teve profundas consequências culturais, políticas e sociais para a região.
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Contexto Histórico
O Império Mongol

O Império Mongol, fundado por Gengis Khan no início do século XIII, é frequentemente lembrado como um dos maiores e mais poderosos impérios da história humana. Sob a liderança de Gengis Khan, os mongóis unificaram as tribos nômades da Ásia Central e lançaram uma série de campanhas militares que resultaram na criação de um império que se estendia da Europa Oriental até o Mar da China.
A habilidade militar dos mongóis era lendária, e eles eram conhecidos por sua mobilidade, estratégias inovadoras e uso eficaz de arqueiros montados. Além disso, os mongóis eram mestres em integrar diferentes culturas e tecnologias, o que lhes permitiu administrar um império vasto e diversificado.
Após a morte de Gengis Khan em 1227, o império foi dividido entre seus filhos e netos. Essa divisão resultou na formação de vários khanatos, cada um governado por um descendente de Gengis Khan. Hulagu Khan, neto de Gengis Khan, recebeu a parte ocidental do império, que incluía a Pérsia e o Oriente Médio.
Hulagu foi encarregado de expandir o domínio mongol para o oeste, o que o levou a confrontar o Califado Abássida e outras potências regionais.
O Califado Abássida
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O Califado Abássida, estabelecido em 750 d.C., foi um dos mais duradouros e influentes califados da história islâmica. Os Abássidas derrubaram os Omíadas e transferiram a capital do califado de Damasco para Bagdá, uma cidade recém-fundada às margens do rio Tigre. Bagdá rapidamente se tornou o centro político, cultural e intelectual do mundo islâmico.
Durante a Era de Ouro Islâmica, que se estendeu do século VIII ao XIII, Bagdá foi um farol de aprendizado e inovação. Estudiosos de diversas origens, incluindo árabes, persas, gregos e indianos, contribuíram para avanços significativos em campos como ciência, medicina, filosofia, matemática e literatura.
No entanto, no século XIII, o Califado Abássida já estava em declínio. O poder real dos califas havia diminuído, e grande parte do território estava sob o controle de vários emires e sultões locais. O califa Al-Musta’sim, que governava na época do cerco mongol, era mais uma figura simbólica do que um líder político efetivo.
A autoridade central estava enfraquecida, e o califado enfrentava ameaças internas e externas. Essa fragilidade tornou o Califado Abássida um alvo fácil para a expansão mongol.

A Expansão Mongol no Mundo Islâmico
A Campanha de Hulagu Khan
Hulagu Khan foi encarregado por seu irmão, o Grande Khan Möngke, de expandir o Império Mongol para o oeste, com o objetivo de subjugar os territórios islâmicos e consolidar o controle mongol sobre a região. Hulagu partiu em 1253 com um exército massivo, que incluía não apenas guerreiros mongóis, mas também engenheiros chineses especializados em cerco e armas de fogo. A campanha de Hulagu foi marcada por uma série de conquistas brutais e eficientes.
Em 1256, Hulagu derrotou os Hashashin, também conhecidos como Assassinos, uma seita ismaelita que controlava fortalezas no norte da Pérsia.
Os Hashashin eram temidos por suas táticas de assassinato e resistência, mas não foram páreo para o poderio militar mongol. Com a queda dos Hashashin, Hulagu voltou sua atenção para Bagdá, o coração do Califado Abássida.
O Cerco a Bagdá

O cerco a Bagdá começou em 29 de janeiro de 1258. Hulagu Khan liderou um exército estimado em 100.000 a 150.000 homens, incluindo tropas mongóis, armênios, georgianos e turcos. O califa Al-Musta’sim, por outro lado, tinha um exército muito menor e menos organizado, incapaz de resistir ao poderio mongol.
Apesar das tentativas de negociar, Hulagu exigiu a rendição incondicional de Bagdá, mas o califa recusou, confiando na proteção divina e na reputação de invencibilidade da cidade.
No entanto, as defesas de Bagdá estavam em mau estado, e a cidade não estava preparada para um cerco prolongado. Os mongóis cercaram a cidade e começaram a bombardear as muralhas com catapultas e canhões primitivos. Em 10 de fevereiro, as muralhas foram rompidas, e os mongóis invadiram a cidade.
O que se seguiu foi uma carnificina de proporções épicas. Estima-se que entre 200.000 e 1 milhão de pessoas foram mortas, incluindo homens, mulheres e crianças. As ruas de Bagdá ficaram cheias de cadáveres, e os rios Tigre e Eufrates ficaram vermelhos de sangue.
A Destruição de Bagdá
A destruição de Bagdá foi completa. Os mongóis saquearam a cidade, queimando bibliotecas, mesquitas, palácios e outros edifícios. A Casa da Sabedoria (Bayt al-Hikma), um dos maiores centros de aprendizado do mundo, foi destruída, e incontáveis manuscritos e livros foram queimados ou jogados no rio.
A perda de conhecimento foi incalculável. A cidade, que já foi um farol de cultura e aprendizado, foi reduzida a ruínas.
O califa Al-Musta’sim foi capturado e executado. De acordo com algumas fontes, ele foi enrolado em um tapete e pisoteado por cavalos, uma prática mongol que acreditavam evitar o derramamento de sangue real.
A execução do califa marcou o fim simbólico do Califado Abássida, embora um membro da família abássida tenha fugido para o Egito e estabelecido um califado fantoche sob o controle dos mamelucos.
Consequências do Cerco a Bagdá
Impacto Cultural e Intelectual
A destruição de Bagdá teve um impacto profundo no mundo islâmico. A cidade era um centro de aprendizado e cultura, e sua destruição marcou o fim da Era de Ouro Islâmica. A perda de bibliotecas e manuscritos representou um golpe irreparável para o conhecimento acumulado ao longo de séculos.
Muitas obras de filósofos, cientistas e poetas foram perdidas para sempre. A destruição da Casa da Sabedoria foi particularmente devastadora, pois ela abrigava uma vasta coleção de textos gregos, persas e indianos, muitos dos quais foram traduzidos para o árabe e serviram como base para futuros avanços científicos e filosóficos.
Impacto Político e Social
O cerco a Bagdá também teve consequências políticas e sociais significativas. A queda do Califado Abássida deixou um vácuo de poder no mundo islâmico, que foi preenchido por várias dinastias locais, como os mamelucos no Egito e os ilkhanatos mongóis na Pérsia.
A unidade política do mundo islâmico foi fragmentada, e a região nunca mais recuperou sua antiga glória. A destruição de Bagdá também teve um impacto psicológico profundo, abalando a confiança dos muçulmanos em sua capacidade de resistir a invasores estrangeiros.
Expansão Mongol no Mundo Árabe

Após a queda de Bagdá, os mongóis continuaram sua expansão no mundo islâmico. Em 1260, eles foram detidos pelos mamelucos na Batalha de Ain Jalut, na Palestina, marcando o limite ocidental da expansão mongol. No entanto, os mongóis continuaram a controlar grande parte da Pérsia e do Iraque, estabelecendo o Ilkhanato, um dos quatro principais khanatos do Império Mongol.
O Ilkhanato inicialmente continuou a política de destruição e subjugação, mas com o tempo, os mongóis na Pérsia adotaram o islamismo e começaram a integrar-se à cultura local. Isso levou a um renascimento cultural e científico na região, embora nunca tenha alcançado o esplendor da Era de Ouro Islâmica. A conversão dos mongóis ao islamismo também teve implicações políticas, pois ajudou a legitimar seu governo sobre a população muçulmana.
Conclusão
O Cerco a Bagdá em 1258 foi um evento traumático que marcou o fim da Era de Ouro Islâmica e o declínio do Califado Abássida. A destruição de Bagdá pelos mongóis não apenas resultou em uma perda incalculável de vidas e conhecimento, mas também teve consequências duradouras para o mundo islâmico.
A expansão mongol no mundo árabe alterou o curso da história, fragmentando o poder político e cultural da região e abrindo caminho para novas dinastias e impérios.
Apesar da devastação, o legado da Era de Ouro Islâmica sobreviveu em parte através dos esforços de estudiosos e escribas que preservaram e transmitiram o conhecimento para as gerações futuras. No entanto, o cerco a Bagdá permanece como um lembrete sombrio da fragilidade das civilizações e do impacto duradouro da guerra e da conquista.
A história do cerco a Bagdá serve como um alerta sobre as consequências da divisão interna e da falta de preparação diante de ameaças externas, lições que continuam relevantes até os dias de hoje.