Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, é um exemplo emblemático de como a geografia, a história e a indústria podem se entrelaçar para formar uma identidade urbana única. Conhecida como a “Cidade do Aço”, sua trajetória está intimamente ligada ao Rio Paraíba do Sul, à instalação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e ao movimento emancipacionista que culminou em sua autonomia municipal.
Índice
ToggleO Rio Paraíba do Sul: Artéria Vital e Nome da Cidade
O Rio Paraíba do Sul, que serpenteia pela região sudeste do Brasil, é mais do que uma simples fonte de água; é o coração pulsante que moldou a ocupação e o desenvolvimento de Volta Redonda. Em 1744, desbravadores nomearam uma curva característica do rio como “Volta Redonda”, dando origem ao nome da cidade. Essa característica geográfica não apenas inspirou o nome, mas também foi crucial para a escolha do local para a instalação da CSN, devido à facilidade de acesso fluvial e à abundância de recursos naturais na região.
O Surgimento do Distrito de Santo Antônio de Volta Redonda
A ocupação sistemática da região teve início no século XVIII, com a chegada dos jesuítas que estabeleceram a Fazenda Santa Cruz. No entanto, foi no século XIX que a área começou a ganhar relevância, especialmente após a construção da Estrada de Ferro D. Pedro II, que facilitou o escoamento da produção agrícola. Em 1835, o povoado de Santo Antônio de Volta Redonda foi oficialmente fundado, e, ao longo dos anos, a localidade foi se expandindo, impulsionada pela atividade cafeeira e pela instalação de fazendas que deram origem a bairros como Três Poços, Belmonte e Santa Cecília.

A Escolha da Região para a Construção da CSN
Na década de 1930, o Brasil enfrentava a necessidade de se industrializar para reduzir a dependência externa. O governo de Getúlio Vargas, em busca de soluções para essa questão, estabeleceu um acordo com os Estados Unidos, conhecido como Acordos de Washington, que resultou na construção da Companhia Siderúrgica Nacional. Volta Redonda foi escolhida como o local para a instalação da usina devido à sua localização estratégica, proximidade com o Rio Paraíba do Sul e a disponibilidade de recursos naturais, como minério de ferro e carvão. A construção da CSN teve início em 1941, com apoio financeiro do Eximbank dos EUA, e foi concluída em 1946, marcando o início da industrialização da região e transformando Volta Redonda em um polo siderúrgico nacional.
A Construção da Cidade: Infraestrutura e Urbanização
Paralelamente à construção da usina, iniciou-se a edificação da cidade operária. A CSN implementou uma infraestrutura urbana que incluía moradias, escolas e serviços essenciais para os trabalhadores. A Escola Técnica Pandiá Calógeras, fundada pela empresa, desempenhou um papel fundamental na formação profissional da mão de obra local. A cidade foi planejada para atender às necessidades dos operários e suas famílias, refletindo o modelo de “company town”, onde a empresa detinha grande influência sobre a vida urbana.

Emancipação Municipal: A Luta pela Autonomia
O movimento pela emancipação de Volta Redonda teve início ainda no período imperial, com pleitos para a elevação do povoado à categoria de freguesia. No entanto, foi na década de 1950 que o movimento ganhou força significativa. Em 1950, Lucas Evangelista de Oliveira Franco, na Loja Maçônica Independência e Luz II, defendeu a separação de Volta Redonda do município de Barra Mansa. Apesar da resistência de parlamentares barra-mansenses, o movimento contou com o apoio de figuras influentes como Sávio Gama, que articulou a criação do Centro Cívico Pró-Emancipação. Após intensas negociações políticas, Volta Redonda foi oficialmente elevada à categoria de município em 17 de julho de 1954, com a posse de Sávio Gama como seu primeiro prefeito em fevereiro de 1955.
A Greve de 1988: Conflito e Memória
Em 1988, trabalhadores da CSN realizaram uma greve exigindo melhores condições de trabalho e direitos trabalhistas. O movimento culminou em um confronto com o Exército, resultando na morte de três operários: Carlos Augusto Barroso, Walmir Freitas Monteiro e William Fernandes Leite. O episódio, conhecido como o “Massacre de Volta Redonda”, teve repercussão nacional e internacional, evidenciando as tensões entre o movimento sindical e o regime militar. Em homenagem aos trabalhadores mortos, foi inaugurado o Memorial 9 de Novembro, projetado por Oscar Niemeyer. O monumento, que sofreu um atentado à bomba no dia seguinte à sua inauguração, permanece como um símbolo da luta por direitos e justiça social.
Curiosidades sobre Volta Redonda
- Edifício Redondo: Inaugurado em 1966, o Edifício Redondo foi projetado para ser o primeiro shopping center da América Latina. Apesar de nunca ter sido concluído, sua forma cilíndrica tornou-se um ícone arquitetônico da cidade.
- Flumen Fulmini Flexit: O lema da cidade, em latim, significa “O rio se curva diante do raio”. Essa expressão simboliza a força da natureza e a resiliência da cidade diante dos desafios.
- Memorial 9 de Novembro: O monumento, além de homenagear os operários mortos, representa a resistência da sociedade civil e a importância da memória histórica. A frase “Nada, nem a bomba que destruiu este monumento, poderá deter os que lutam pela justiça e liberdade” foi acrescentada após o atentado, reforçando seu simbolismo.
Conclusão
Volta Redonda é um exemplo de como a interação entre geografia, indústria e sociedade pode moldar a identidade de uma cidade. Desde sua fundação às margens do Rio Paraíba do Sul até sua ascensão como polo industrial com a instalação da CSN, a cidade passou por transformações significativas. A luta pela emancipação e os eventos históricos, como a greve de 1988, contribuíram para a construção de uma memória coletiva que valoriza a história e a cultura local. Hoje, Volta Redonda continua a ser um símbolo de resistência, desenvolvimento e identidade no contexto fluminense.
Fontes Consultadas:
- Prefeitura Municipal de Volta Redonda. História da Cidade. Disponível em: https://www.voltaredonda.rj.gov.br/12-Historia-Cidade/
- Jornal Ponto. Volta Redonda: A Conquista da Emancipação. Disponível em: https://www.jornalponto.com/site/2023/07/06/volta-redonda-a-conquista-da-emancipacao/