Atualização do texto originalmente publicado em 04 de Agosto de 2019 por Jason Guedes
A cartografia, uma das mais antigas disciplinas humanas, tem sido essencial para a compreensão e representação do espaço geográfico. Desde os primórdios das civilizações, a necessidade de representar e entender o espaço ao redor levou ao desenvolvimento de mapas que possibilitam tanto a navegação quanto a interpretação dos fenômenos geográficos.
Em seu cerne, a cartografia envolve a arte, a ciência e a técnica de criar mapas e representar graficamente as informações geográficas, sendo fundamental para áreas como geografia, história, urbanismo, e diversas ciências sociais.
Ao longo do tempo, os mapas evoluíram para atender a necessidades específicas, como representar fenômenos naturais, estudar tendências sociais ou facilitar a navegação. A seguir, abordaremos os aspectos essenciais da cartografia, incluindo os elementos dos mapas, os sistemas de coordenadas geográficas, tipos de mapas, projeções cartográficas e as influências de alguns dos principais cartógrafos históricos.
Índice
ToggleÍndice
O que é Cartografia?
A cartografia é uma área interdisciplinar que se concentra na criação e interpretação de mapas. Ela envolve tanto o conhecimento técnico necessário para projetar e produzir mapas, quanto a habilidade artística de representar o mundo de forma compreensível. Além de ser uma ciência, pois envolve a aplicação de métodos científicos para representar informações precisas, a cartografia também é uma arte, pois exige criatividade para transformar uma vasta quantidade de dados em imagens visuais claras e úteis.
Historicamente, a cartografia teve início com os primeiros mapas desenhados por antigos civilizações como os egípcios, babilônios e gregos. A evolução da cartografia reflete o avanço do conhecimento humano sobre o mundo e os diferentes métodos utilizados para representar a Terra, como a criação de projeções que lidam com a curvatura da superfície terrestre.
A função principal da cartografia é representar áreas geográficas, mas a disciplina também é essencial para o planejamento urbano, a navegação, a pesquisa científica, o controle ambiental, e muitas outras atividades. Mapas de diversos tipos, como os topográficos, temáticos, históricos e climáticos, são utilizados para transmitir informações específicas, sendo ferramentas fundamentais na educação e na tomada de decisões.

Elementos de um Mapa
Os elementos da cartografia são componentes essenciais que permitem a correta interpretação e compreensão de um mapa. Cada um desses elementos tem uma função específica e contribui para que o mapa cumpra seu propósito de forma eficiente, fornecendo informações claras e precisas sobre o espaço geográfico. A seguir, explicamos cada um desses elementos:
1. Título: O título de um mapa é o primeiro elemento que aparece na maioria das representações cartográficas. Ele tem a função de indicar de forma clara e objetiva o que o mapa representa. O título descreve o tema do mapa e a área que ele abrange, por exemplo, “Mapa Climático do Brasil”, “Distribuição da População Mundial” ou “Mapa de Relevo da América do Sul”.
O título é importante porque ajuda o leitor a entender rapidamente o propósito do mapa, facilitando a identificação da informação que ele está procurando. Além disso, ele também deve ser específico o suficiente para evitar confusões, especialmente quando o mapa aborda diferentes tipos de fenômenos, como políticos, climáticos, econômicos, entre outros.
2. Escala: A escala é um dos elementos mais cruciais de um mapa, pois indica a relação entre as dimensões do que está sendo representado no mapa e as dimensões reais no mundo físico. A escala fornece uma medida que permite que o leitor compreenda a verdadeira extensão geográfica da área retratada.

A escala pode ser expressa de 2 formas principais:
- Escala numérica: Representa a relação entre a distância no mapa e a distância real no terreno por meio de uma fração ou proporção. Por exemplo, uma escala 1:100.000 significa que 1 unidade no mapa equivale a 100.000 unidades na realidade (ou seja, 1 cm no mapa corresponde a 1 km no mundo real).
- Escala gráfica: Mostra uma linha graduada no mapa, representando as distâncias reais. O leitor pode usar essa linha para medir distâncias no mapa e transferir essas medições para o terreno real.
A escala é fundamental para determinar o nível de detalhe e a abrangência de um mapa. Mapas com uma escala maior, como 1:10.000, mostram mais detalhes de áreas menores, enquanto mapas com uma escala menor, como 1:1.000.000, abrangem áreas maiores, mas com menos detalhes.
3. Legenda: A legenda é uma parte essencial de qualquer mapa. Ela serve para explicar os símbolos, cores e outros elementos gráficos utilizados no mapa. Cada símbolo ou cor representando algo no mapa deve ter uma correspondência na legenda, que especifica o que ele significa.
Por exemplo, em um mapa topográfico, uma linha pode ser usada para indicar uma estrada, uma cor pode representar áreas de vegetação, e um símbolo pode representar uma cidade. Sem a legenda, o usuário do mapa não teria como entender o que cada símbolo ou cor significa.
A legenda deve ser clara e objetiva, para que qualquer pessoa que consulte o mapa consiga interpretar as informações com facilidade. Ela é especialmente importante em mapas temáticos, como mapas climáticos ou de uso do solo, que utilizam símbolos e cores de maneira mais intensa.
4. Orientação: A orientação de um mapa diz respeito à indicação das direções (norte, sul, leste e oeste) no mapa. Isso permite que o leitor tenha uma ideia de como o mapa está posicionado em relação ao mundo real. A orientação é normalmente fornecida por uma rosa dos ventos ou uma seta que aponta para o norte (ou outro ponto cardeal).

A orientação é importante porque, sem ela, seria impossível saber em que direção as várias características geográficas representadas no mapa estão localizadas em relação umas às outras. Em mapas detalhados, a orientação pode também incluir direções intermediárias, como nordeste, sudoeste, etc.
5. Coordenadas Geográficas: As coordenadas geográficas são fundamentais para identificar a localização exata de qualquer ponto na Terra. Elas são expressas por latitude e longitude.
- Latitude: Representa a distância de um ponto em relação à linha do Equador. A latitude varia de 0° (no Equador) a 90° norte (no Pólo Norte) ou 90° sul (no Pólo Sul).
- Longitude: Refere-se à distância de um ponto em relação ao meridiano de Greenwich, que é o ponto de referência para a medição da longitude. Ela varia de 0° a 180° para leste ou para oeste de Greenwich.
Essas coordenadas são essenciais para mapear a superfície da Terra com precisão. O uso de coordenadas geográficas é particularmente importante em mapas que têm como objetivo a navegação (como os mapas náuticos ou aéreos) ou quando se deseja localizar um ponto específico no globo.
6. Fonte: A fonte de um mapa se refere à origem dos dados utilizados para criá-lo. A indicação da fonte é importante para que o usuário saiba de onde vêm as informações representadas e sua confiabilidade. A fonte pode ser uma pesquisa científica, uma instituição governamental, uma organização internacional, entre outras.
Indicar a fonte do mapa também ajuda a verificar a precisão dos dados apresentados, pois mapas criados a partir de fontes confiáveis tendem a ser mais precisos e representativos da realidade. Além disso, a fonte é importante quando o mapa se destina a fins específicos, como estudos acadêmicos ou análise de políticas públicas, pois garante que os dados representados têm respaldo técnico.
No Brasil, utilizamos muito os dados apresentados pelo IBGE, seja no Atlas ou nos dados apresentados na base deles através dos sites do Istituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Podemos usar como exemplo a produção de Alface no Brasil (ao clicar o no link, você verá tanto o mapa quanto a tabela com os dados levantados do IBGE).
Conclusão
Em resumo, os elementos da cartografia — título, escala, legenda, orientação, coordenadas geográficas e fonte — são essenciais para que um mapa seja compreensível e útil. Cada um desses elementos desempenha um papel específico na representação do espaço geográfico, tornando a leitura do mapa mais clara e precisa. A combinação desses elementos permite que o mapa seja utilizado de forma eficaz, seja para navegação, estudos acadêmicos ou análise de dados geográficos.
Os mapas são construídos com uma série de elementos que permitem ao usuário compreender a representação da área ou fenômeno que o mapa busca ilustrar. Esses elementos são fundamentais para garantir que as informações sejam transmitidas de forma clara e precisa. Entre os principais elementos dos mapas, podemos destacar:
Sistema de Coordenadas Geográficas
O sistema de coordenadas geográficas é uma rede global usada para definir a localização de qualquer ponto na Terra. O sistema é baseado em duas coordenadas principais: a latitude e a longitude.

- Latitude: A latitude é a distância de um ponto em relação ao Equador, e é medida em graus. Ela pode variar de 0° (na linha do Equador) até 90° ao norte (Pólo Norte) ou 90° ao sul (Pólo Sul). A linha do Equador é a linha de latitude 0°, e as latitudes ao norte são chamadas de latitudes norte, enquanto as latitudes ao sul são chamadas de latitudes sul.
- Longitude: A longitude é a distância de um ponto em relação ao meridiano de Greenwich, medido em graus. O meridiano de Greenwich é a linha de longitude 0° e passa por Londres, na Inglaterra. A longitude varia de 0° a 180° a leste ou a oeste de Greenwich.
Essas duas coordenadas são suficientes para identificar qualquer ponto na superfície terrestre. Quando combinadas, latitude e longitude formam uma grade geográfica que cobre o planeta, permitindo que possamos localizar qualquer ponto da Terra com precisão.
Mapas Temáticos
Os mapas temáticos são uma categoria de mapas especialmente criados para representar informações relacionadas a um tema específico. Ao contrário dos mapas tradicionais, que representam uma área de forma genérica e geograficamente precisa, os mapas temáticos são criados com o intuito de enfatizar um aspecto particular do território, como aspectos sociais, econômicos, ambientais ou climáticos. Por exemplo:

- Mapas Climáticos: Representam as condições climáticas de uma região, como a temperatura média, a precipitação ou os padrões de ventos.
- Mapas de Densidade Populacional: Mostram a quantidade de pessoas por unidade de área.
- Mapas de Uso do Solo: Indicam como uma determinada área do território está sendo utilizada (agricultura, áreas urbanas, florestas, etc.).
- Mapas de Riscos Naturais: Representam áreas propensas a desastres naturais como enchentes, terremotos ou furacões.
Esses mapas são usados frequentemente para análise estatística e geográfica, além de serem úteis para políticas públicas, planejamento urbano e estudos ambientais.
Mapas Anamórficos
Os mapas anamórficos são um tipo de mapa que distorce a área geográfica de acordo com uma variável específica, como a população, a economia ou o produto interno bruto (PIB) de uma região. Em vez de representar a área real de um país ou continente, um mapa anamórfico distorce a área de acordo com o valor de uma característica de interesse.

Por exemplo, em um mapa anamórfico sobre população, os países com maior população seriam representados com tamanhos maiores que sua área real, enquanto os países com menos população seriam representados com tamanhos menores. Isso ajuda a enfatizar a desigualdade de distribuição de recursos ou a concentração de certos fenômenos, facilitando a visualização de grandes disparidades entre as regiões.
Projeções Cartográficas
As projeções cartográficas são métodos usados para representar a superfície curva da Terra em um plano. Como a Terra é esférica, a projeção de um globo em um plano sempre acarretará algum grau de distorção. As projeções cartográficas podem ser classificadas em três tipos principais: cilíndrica, cônica e azimutal. Cada uma possui características próprias, e a escolha do tipo de projeção depende do objetivo do mapa e da área que se deseja representar.

Projeção Cilíndrica
A projeção cilíndrica é uma das mais conhecidas e antigas. Ela é criada projetando a superfície da Terra sobre um cilindro tangente ao globo, que toca a Terra na linha do Equador. O exemplo clássico dessa projeção é a projeção de Mercator. Esta projeção preserva os ângulos e as formas locais, o que a torna ideal para a navegação, pois mantém as direções corretas. No entanto, ela distorce significativamente as áreas próximas aos polos, fazendo com que regiões como a Groenlândia e a Antártida apareçam muito maiores do que são na realidade.
Projeção Cônica
Na projeção cônica, a superfície da Terra é projetada sobre um cone tangente a um paralelo específico. A principal vantagem dessa projeção é que ela mantém a forma e a área em torno da linha de tangência (o paralelo). Por isso, ela é mais adequada para representar áreas de latitudes médias, como a Europa ou os Estados Unidos, e é frequentemente usada para mapas topográficos e climáticos.
Projeção Azimutal
A projeção azimutal é obtida projetando a superfície da Terra sobre um plano, geralmente a partir do centro de um dos polos. Essa projeção é útil para representar áreas ao redor dos polos ou para mostrar trajetos aéreos, já que mantém as distâncias e direções precisas a partir do ponto central. As projeções azimutais são comumente utilizadas em mapas de aeronaves e mapas polares.
Propriedades das Projeções Cartográficas
As projeções cartográficas são avaliadas com base em suas propriedades geométricas, que podem ser de quatro tipos principais:
- Equidistante: A projeção equidistante mantém as distâncias corretas entre os pontos na projeção. É útil para mapas que necessitam mostrar a distância entre lugares de forma precisa.
- Conforme: A projeção conforme preserva os ângulos locais, ou seja, as formas das áreas representadas. Contudo, ela pode distorcer áreas e distâncias. A projeção de Mercator é um exemplo de projeção conforme.
- Equivalente: A projeção equivalente mantém as proporções entre as áreas, ou seja, as áreas reais são preservadas. A projeção de Peters é um exemplo de projeção equivalente.
- Afilática: A projeção afilática não preserva nenhuma das propriedades acima, distorcendo livremente as formas, áreas e distâncias. Ela é usada quando nenhuma dessas propriedades é prioridade.
Mercator, Peters e Robinson
A história da cartografia é marcada por grandes figuras como Gerardus Mercator, Arno Peters e David Robinson, que revolucionaram a maneira como o mundo é representado nos mapas.
- Mercator: A projeção cilíndrica de Mercator, desenvolvida em 1569, é uma das mais famosas. Ela preserva os ângulos e as formas locais, tornando-se ideal para a navegação. Contudo, ela distorce exageradamente as áreas próximas aos polos, levando a representações desproporcionais, como a Groenlândia sendo mostrada muito maior que a África.
- Peters: A projeção de Peters, proposta por Arno Peters em 1974, é uma projeção equivalente que visa corrigir as distorções de Mercator. Ela mantém as proporções de área, mas distorce as formas, o que levou a controvérsias, pois ela pode parecer menos familiar aos olhos do público, devido à distorção das formas.
- Robinson: A projeção de Robinson, criada por David Robinson em 1963, busca equilibrar as distorções de forma, área e distância. Ela é amplamente utilizada em atlas e globos, por ser considerada esteticamente agradável e funcional, já que minimiza as distorções mais extremas.

Com isso, concluímos uma visão abrangente sobre a cartografia, seus principais conceitos e a relevância dos mapas e projeções para a compreensão do mundo que nos cerca.
A cartografia não é apenas uma ferramenta de orientação, mas também um campo de estudo dinâmico que evolui junto com as necessidades humanas de representar o mundo.