No dia 28 de março de 845, uma frota Viking liderada pelo lendário Ragnar Lothbrok cercou e saqueou Paris, marcando um dos episódios mais audaciosos da era Viking na Europa. Este ataque não só demonstrou a eficiência militar dos nórdicos, mas também expôs a fragilidade dos reinos francos frente a incursões rápidas e bem-organizadas.
Este texto explora em detalhes:
- O contexto histórico da Europa no século IX;
- A cultura e as práticas militares dos Vikings;
- A estratégia do cerco de Paris e como os francos reagiram;
- As consequências políticas e militares do ataque;
- A representação desse evento na série Vikings.
Com base em crônicas medievais e pesquisas arqueológicas, reconstruímos como esse evento moldou as relações entre os escandinavos e a Europa cristã.
Índice
ToggleContexto Histórico: A Europa Carolíngia e a Ascensão Viking
A Fragmentação do Império Carolíngio
Após a morte de Carlos Magno (814), seu império foi dividido entre seus netos. Carlos, o Calvo, governava a França Ocidental (atual França), enquanto seus irmãos controlavam outras regiões. Essa divisão enfraqueceu a resistência franca contra invasões externas.
Os Vikings, provenientes da Dinamarca, Noruega e Suécia, já haviam atacado a Inglaterra (como no saque a Lindisfarne em 793) e explorado rotas comerciais na Rússia. Suas expedições à França foram impulsionadas por:
- Falta de terras cultiváveis na Escandinávia;
- Desejo por riquezas (ouro, prata e escravos);
- Prestígio militar e expansão de influência.
Por que Paris?
Paris, embora ainda não fosse a grandiosa capital do futuro, era um centro religioso e comercial estratégico. Localizada às margens do rio Sena, servia como porta de entrada para o interior da França. Além disso:
- Mosteiros e igrejas acumulavam tesouros, atraindo saqueadores;
- As defesas francas eram frágeis contra ataques fluviais.
A Prática Viking: Saques, Estratégia e Mitologia
Quem Eram os Vikings?
Ao contrário da imagem de “bárbaros selvagens”, os Vikings eram navegadores excepcionais, comerciantes e artesãos. Sua sociedade era organizada em clãs familiares, e suas expedições variavam entre:
- Comércio (como em Kiev e Constantinopla);
- Pilhagem (ataques relâmpagos a mosteiros);
- Colonização (como na Islândia e Normandia).
Táticas de Guerra Viking
- Surpresa e Mobilidade:
- Usavam drakkars (navios velozes e de calado raso) para navegar rios e atacar sem aviso.
- Guerra Psicológica:
- Aterrorizavam populações com execuções ritualísticas (como o “Águia de Sangue”).
- Resgate (Danegeld):
- Muitas vezes preferiam extorquir pagamentos em prata a travar batalhas prolongadas.
A Religião Viking e a Justificativa para a Guerra
Os nórdicos acreditavam que morrer em batalha os levava ao Valhalla, o salão dos guerreiros de Odin. Isso os tornava combatentes destemidos. Rituais de sacrifício, como o enforcamento de prisioneiros em honra a Odin, eram comuns.
O Cerco de Paris em 845: Um Ataque Calculado

A Frota de Ragnar e a Subida pelo Sena
Fontes como os Anais de Saint-Bertin relatam que:
- Uma frota de 120 navios (cerca de 5.000 guerreiros) entrou no Sena na primavera de 845.
- Rouen foi saqueada antes de Paris, mostrando a rota estratégica dos Vikings.
A Divisão do Exército Franco e o Massacre Viking
Carlos, o Calvo, posicionou suas tropas em dois acampamentos (um em cada margem do Sena). Os Vikings, liderados por Ragnar, atacaram um dos grupos, capturando e:
- Executando 111 prisioneiros em um ritual dedicado a Odin;
- Enforcando alguns em uma ilha do Sena, causando terror psicológico.
O Saque de Paris e o Resgate
Sem resistência efetiva, os Vikings:
- Invadiram a Île de la Cité (centro de Paris na época);
- Pilharam igrejas e mosteiros;
- Exigiram um resgate de 7.000 libras de prata (equivalente a 2,5 toneladas).
Carlos, o Calvo, pagou, mas isso só encorajou novos ataques nos anos seguintes.

Consequências do Cerco
1. O Início do Danegeld
Os francos adotaram o costume de pagar tributos para evitar saques, uma prática que se espalhou pela Europa.
2. Fortificações Carolíngias
Carlos ordenou a construção de:
- Pontes fortificadas (como em Pitres) para bloquear navios;
- Muralhas em cidades estratégicas.
3. A Lenda de Ragnar e Seus Filhos
Se Ragnar realmente existiu, seu ataque a Paris o tornou uma figura lendária. Seus supostos filhos (Björn Ironside, Ivar, o Desossado e Sigurd Snake-in-the-Eye) continuaram suas campanhas, tomando parte na Invasão do Grande Exército Pagão (865).
4. A Fundação da Normandia
Em 911, o rei Carlos, o Simples, cedeu terras ao Viking Rollo (possivelmente um descendente dos atacantes de Paris), criando o Ducado da Normandia.
Representação na Série Vikings
A série Vikings (History Channel) retrata o cerco na 3ª e 4ª temporadas, com dramatizações:
- Ragnar finge sua morte para surpreender os francos;
- O cerco é mais longo que na realidade, com batalhas épicas;
- Rollo (irmão de Ragnar) tem um papel central, embora historicamente ele não estivesse presente em 845.
Apesar das liberdades criativas, a série ajuda a popularizar a história Viking.

Conclusão
O cerco de Paris em 845 foi um marco na história medieval, mostrando a vulnerabilidade da Europa frente aos Vikings. Se Ragnar Lothbrok foi um homem real ou uma lenda, seu legado influenciou séculos de interação entre nórdicos e francos. O ataque também acelerou mudanças militares e políticas, desde o Danegeld até a fundação da Normandia.
Referências
- BBC History – The Vikings in France
https://www.bbc.co.uk/history - History Channel – The Real Ragnar Lothbrok
https://www.history.com - National Geographic – Viking Raids on Paris
https://www.nationalgeographic.com - The Saga of Ragnar Lothbrok (Tradução de tradições nórdicas)
- Régine Le Jan – Famille et pouvoir dans le monde franc (Estudo sobre a França Carolíngia).
Este texto combina fontes históricas e culturais para oferecer uma visão abrangente de um dos eventos mais icônicos da era Viking.