O Dalai Lama, líder espiritual tibetano, completa 90 anos enquanto a disputa por sua sucessão acirra tensões entre China e Tibete. A China busca controlar o processo de reencarnação, contrariando tradições budistas, enquanto a comunidade internacional acompanha o caso que envolve direitos humanos, geopolítica asiática e liberdade religiosa.
O Dalai Lama completa 90 anos neste domingo (6), e o debate sobre sua sucessão acende um novo capítulo na tensão entre o Tibete e a China. Mas por que esse tema é tão polêmico e o que está em jogo?
Índice
ToggleO aniversário de 90 anos do Dalai Lama
O Dalai Lama celebrou seus 90 anos em meio a reflexões sobre seu legado espiritual e político. Líder budista e símbolo da resistência tibetana, sua trajetória é marcada por ensinamentos de paz e desafios geopolíticos.
Uma vida dedicada ao budismo e ao Tibete
Desde sua identificação como reencarnação do 13º Dalai Lama, aos 2 anos, ele se tornou uma figura central no budismo tibetano. Seus discursos destacam a compaixão e a não violência, mesmo diante do exílio forçado em 1959.
Celebrações e homenagens globais
Monastérios no Himalaia e comunidades tibetanas no mundo todo realizaram cerimônias com orações e oferendas. Líderes internacionais, como o Papa Francisco, enviaram mensagens destacando sua influência como pacificador.
Em Dharamshala, sede do governo tibetano no exílio, festividades incluíram debates sobre direitos humanos e o futuro da região. Artistas locais apresentaram danças tradicionais e recitaram poemas em sua homenagem.
Desafios de saúde e continuidade
Recentemente, o Dalai Lama reduziu viagens devido à idade avançada, mas segue recebendo visitantes para audiências públicas. Seus assessores afirmam que ele mantém uma rotina de meditação e estudos filosóficos.
A tradição da reencarnação no budismo tibetano
A reencarnação é um dos pilares do budismo tibetano, guiando a escolha de líderes espirituais como o Dalai Lama. Acredita-se que os lamas renascem para continuar seu trabalho de compaixão e sabedoria.
Como funciona o processo de reconhecimento
Monastérios seguem sinais como sonhos proféticos e testes com objetos pessoais do falecido. Crianças identificadas passam por anos de treinamento filosófico antes de assumirem seus papéis.
O caso mais famoso: a linhagem do Dalai Lama
O atual Dalai Lama é considerado a 14ª reencarnação de Avalokiteshvara, o buda da compaixão. Seu predecessor, o 13º Dalai Lama, deixou pistas sobre onde seria encontrado.
Em 1937, monges encontraram o menino Tenzin Gyatso (atual Dalai Lama) reconhecendo-o quando ele escolheu objetos que pertenciam ao líder anterior. Esse ritual é chamado de ‘prova de reconhecimento’.
Desafios modernos à tradição
A China criou seu próprio processo para escolher reencarnações, contrariando a tradição tibetana. Isso gerou tensões sobre quem terá autoridade para reconhecer o próximo Dalai Lama.
Muitos tibetanos temem que o governo chinês use isso para controlar o budismo na região. Líderes religiosos afirmam que apenas os monges tibetanos podem interpretar os sinais corretamente.
A disputa pela sucessão e o papel da China
A sucessão do Dalai Lama se tornou um dos maiores debates geopolíticos da Ásia, com a China tentando controlar o processo. O governo chinês afirma que qualquer reencarnação deve ser aprovada por Pequim, o que viola a tradição tibetana.
O que diz a tradição budista
Segundo os rituais tibetanos, apenas monges e oráculos podem identificar a próxima reencarnação. O atual Dalai Lama já sugeriu que seu sucessor pode nascer fora do Tibete, talvez na Índia ou Europa.
A posição da China
A China instalou seu próprio ‘Panchen Lama’ em 1995, ignorando a escolha dos tibetanos. Muitos veem isso como um teste para o que farão quando o Dalai Lama morrer. Pequim quer um líder religioso que não critique seu governo.
Em 2007, a China aprovou uma lei exigindo controle sobre todas as reencarnações religiosas. Líderes tibetanos chamam isso de ‘interferência inaceitável’ em sua fé milenar.
Os possíveis cenários
Analistas preveem três caminhos: 1) A China nomeia seu próprio Dalai Lama, 2) Os tibetanos no exílio escolhem um que a China rejeita, ou 3) Não há consenso e a linhagem se divide.
Qualquer decisão terá impacto global, pois o Dalai Lama é respeitado como símbolo de paz. A comunidade internacional acompanha com preocupação esse delicado processo.
O histórico de conflitos entre Tibete e China
O conflito entre Tibete e China começou em 1950, quando tropas chinesas invadiram a região. Em 1959, o Dalai Lama fugiu para a Índia após um levante popular fracassado contra o domínio chinês.
A ocupação militar
A China afirma que o Tibete sempre fez parte de seu território. Porém, tibetanos veem a presença chinesa como ocupação. Soldados e colonos chineses mudaram a demografia local, tornando os tibetanos minoria em algumas áreas.
Repressão cultural e religiosa
Monastérios foram destruídos durante a Revolução Cultural (1966-76). Até hoje, monges enfrentam restrições. Em 2008, protestos pacíficos viraram violentos, deixando mortos e feridos. A China aumentou a vigilância após esses eventos.
Fotos de policiais armados nas ruas de Lhasa se tornaram comuns. Turistas estrangeiros precisam de permissão especial para visitar a região, que é fechada periodicamente.
Resistência pacífica
O Dalai Lama abandonou a luta armada nos anos 1970, adotando a não-violência. Jovens tibetanos agora usam redes sociais para denunciar abusos, apesar da censura chinesa. Autoimolações protestando contra o governo já ocorreram mais de 150 vezes desde 2009.
Enquanto isso, a China investe em estradas e ferrovias no Tibete, dizendo que traz desenvolvimento. Críticos afirmam que isso só beneficia colonos chineses e facilita o controle militar.
A posição internacional sobre a sucessão
A sucessão do Dalai Lama é acompanhada com atenção pela comunidade internacional. Países ocidentais e organizações de direitos humanos temem que a China use o processo para aumentar seu controle sobre o Tibete.
O apoio dos Estados Unidos
O Congresso americano aprovou várias resoluções defendendo a autonomia tibetana. Em 2020, uma lei determinou que os EUA só reconheceriam um Dalai Lama escolhido pelos tibetanos, não pela China.
A posição da União Europeia
O Parlamento Europeu já pediu diálogo entre China e tibetanos. Alguns países, como Alemanha e França, recebem o Dalai Lama oficialmente, o que sempre gera protestos de Pequim.
Em 2022, a ONU expressou preocupação com violações de direitos humanos no Tibete. Mas a China bloqueia qualquer ação mais forte no Conselho de Segurança.
Os vizinhos asiáticos
A Índia abriga o governo tibetano no exílio, mas evita confrontos diretos com a China. Já países como Butão e Nepal, que têm laços culturais com o Tibete, mantêm silêncio por medo de represálias econômicas.
O que dizem as organizações
Anistia Internacional e Human Rights Watch documentam abusos chineses na região. Enquanto isso, grupos budistas mundiais pressionam por uma transição pacífica que respeite as tradições tibetanas.
O futuro do Tibete e a geopolítica asiática
O futuro do Tibete está no centro de uma complexa disputa geopolítica na Ásia. Com a crescente influência chinesa na região, especialistas debatem diferentes cenários para os próximos anos.
Os interesses da China
A China considera o Tibete parte estratégica de seu território, tanto por recursos naturais quanto por sua localização fronteiriça. Pequim investe pesado em infraestrutura, como a ferrovia Qinghai-Tibete, para consolidar seu controle.
O papel da Índia
A Índia, que abriga o governo tibetano no exílio, caminha numa linha tênue. Nova Délhi evita confrontos diretos com a China, mas mantém apoio discreto à causa tibetana, especialmente em fóruns internacionais.
Analistas acreditam que qualquer mudança no status do Tibete afetaria o equilíbrio de poder entre China e Índia, duas potências nucleares com históricos de conflitos fronteiriços.
O fator Estados Unidos
Os EUA veem a questão tibetana como forma de pressionar a China. Em 2020, aprovaram a Lei de Política Tibetana, que prevê sanções contra autoridades chinesas envolvidas em repressão na região.
Cenários possíveis
Três caminhos são discutidos: 1) maior autonomia negociada, 2) status quo com repressão contínua, ou 3) radicalização da resistência tibetana. A saúde do atual Dalai Lama, já idoso, é um fator crucial nessa equação.
Conclusão
A questão do Dalai Lama e do Tibete continua sendo um dos desafios mais complexos da geopolítica asiática. Como vimos, envolve religião, direitos humanos e o equilíbrio de poder entre grandes nações. A sucessão do líder espiritual pode ser um ponto de virada nessa história secular.
Enquanto a China busca controlar o processo, tibetanos e a comunidade internacional defendem a tradição budista. O futuro da região dependerá não só das decisões em Pequim, mas também do apoio global à causa tibetana. Uma coisa é certa: o mundo continuará acompanhando atentamente esse delicado capítulo da história.
Fonte: G1.globo.com