A Páscoa é uma das celebrações mais antigas e significativas da história da humanidade, carregada de simbolismo religioso, cultural e histórico. Enquanto para os judeus ela marca a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, para os cristãos, representa o ápice da fé: a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Ao longo dos séculos, a Páscoa adquiriu diferentes formas de celebração, incorporando elementos de diversas culturas e tradições.
Índice
ToggleAs Origens Judaicas da Páscoa: O Pessach
A Páscoa judaica, conhecida como Pessach, tem suas raízes no livro do Êxodo, que narra a libertação dos hebreus da escravidão no Egito. Segundo a narrativa bíblica, após séculos de opressão, Deus enviou Moisés para liderar seu povo rumo à Terra Prometida.
As Dez Pragas e o Cordeiro Pascal
Para convencer o faraó a libertar os hebreus, Deus enviou dez pragas sobre o Egito. A última e mais terrível delas foi a morte dos primogênitos. Os hebreus foram instruídos a sacrificar um cordeiro sem defeito e marcar suas portas com o sangue do animal, sinal que faria o anjo da morte “passar por cima” (Pessach) de suas casas, poupando suas famílias.
Após essa praga, o faraó finalmente permitiu que os israelitas partissem, iniciando o Êxodo.
O Significado do Seder de Pessach
A celebração do Pessach inclui o Seder (ordem), uma refeição ritual que segue uma sequência específica:
- Matzá (pão ázimo): Simboliza a pressa da fuga, sem tempo para o pão fermentar.
- Maror (ervas amargas): Representa o sofrimento da escravidão.
- Vinho: Quatro cálices que simbolizam as quatro promessas de libertação de Deus.
- Contação da história: Os mais jovens fazem perguntas, mantendo viva a memória da libertação.
A Páscoa judaica é, acima de tudo, uma celebração de liberdade e identidade nacional.
A Páscoa Cristã: O Cordeiro de Deus
Para os cristãos, a Páscoa adquire um novo significado: Jesus Cristo como o Cordeiro sacrificial que tira o pecado do mundo (João 1:29). A teologia cristã vê a morte e ressurreição de Jesus como o cumprimento das profecias do Antigo Testamento, onde o sacrifício do cordeiro pascal prefigurava o sacrifício de Cristo.
A Última Ceia: A Instituição da Eucaristia
Na noite antes de sua morte, Jesus celebrou o Pessach com seus discípulos, um evento conhecido como a Última Ceia (Mateus 26:17-30). Durante a refeição:
- Partiu o pão, dizendo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós”.
- Abençoou o vinho, declarando: “Este é o meu sangue, derramado para remissão dos pecados”.
- Lavou os pés dos discípulos, ensinando humildade e serviço (João 13:1-17).
Este momento estabeleceu a Eucaristia, um dos sacramentos centrais do Cristianismo.
A Traição de Judas: O Beijo da Morte
Judas Iscariotes, um dos Doze, traiu Jesus por trinta moedas de prata (Mateus 26:14-16). Ele identificou Jesus aos soldados com um beijo, levando à sua prisão. Após a crucificação, Judas, tomado por remorso, devolveu o dinheiro e se enforcou (Mateus 27:3-5).

O Caminho para a Cruz: A Paixão de Cristo
Após sua prisão, Jesus foi submetido a um julgamento sumário diante do Sinédrio (tribunal judaico) e de Pôncio Pilatos (governador romano).
Os Eventos da Paixão
Julgamento e Flagelação
- Acusado de blasfêmia (para os judeus) e de se declarar “Rei dos Judeus” (para os romanos).
- Foi açoitado e coroado com espinhos (Mateus 27:26-31).
A Via Dolorosa
- Jesus carregou a cruz pelas ruas de Jerusalém até o Gólgota (ou Calvário).
- Simão de Cirene foi obrigado a ajudá-lo (Marcos 15:21).
A Crucificação
- Jesus foi pregado na cruz entre dois criminosos.
- Suas últimas palavras incluíram: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lucas 23:34).
- Morreu após seis horas de agonia (Marcos 15:33-37).
O Sepultamento
- Seu corpo foi colocado em um túmulo doado por José de Arimateia (Mateus 27:57-60).

A Ressurreição: O Fundamento da Fé Cristã
No terceiro dia após sua morte, Maria Madalena e outras mulheres foram ao túmulo e o encontraram vazio (Mateus 28:1-6). Um anjo anunciou:
“Não está aqui; ressuscitou, como havia dito!”
Jesus apareceu aos discípulos em várias ocasiões, confirmando sua vitória sobre a morte. A ressurreição é o cerne da fé cristã, provando que Jesus era o Messias e garantindo a promessa da vida eterna.
A Ressurreição de Cristo: Milagres e Impacto no Cristianismo
A ressurreição de Jesus Cristo é o evento mais importante da fé cristã, considerado o fundamento da doutrina da salvação. Mais do que um simples retorno à vida, a ressurreição foi uma vitória sobre a morte e o pecado, confirmando a divindade de Cristo e cumprindo as profecias do Antigo Testamento.
Os Relatos Bíblicos da Ressurreição
Os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) descrevem a ressurreição com algumas variações narrativas, mas todas convergem em um ponto central: o túmulo estava vazio, e Jesus apareceu vivo a seus seguidores.
O Túmulo Vazio (Mateus 28:1-10; Marcos 16:1-8; Lucas 24:1-12; João 20:1-10)
- Maria Madalena e outras mulheres foram ao túmulo ao amanhecer do terceiro dia (domingo) para ungir o corpo de Jesus.
- Encontraram a pedra removida e um anjo (ou dois, dependendo do Evangelho) anunciando: “Ele não está aqui; ressuscitou!”
- Pedro e João correram ao túmulo e viram apenas os lençóis dobrados, sinal de que o corpo não foi roubado (João 20:6-7).
A Reação das Autoridades
- Os líderes judeus subornaram os guardas romanos para espalhar a mentira de que os discípulos roubaram o corpo (Mateus 28:11-15).
- O fato de os próprios inimigos de Jesus não terem apresentado seu corpo foi uma evidência indireta da ressurreição.

As Aparições de Jesus Após a Ressurreição
Jesus não apenas ressuscitou, mas apareceu fisicamente a diversas pessoas por 40 dias antes de ascender ao céu (Atos 1:3). Essas aparições foram registradas em múltiplas fontes, incluindo o apóstolo Paulo (1 Coríntios 15:3-8).
Principais Aparições
Aparição | Referência Bíblica | Detalhes |
---|---|---|
A Maria Madalena | João 20:11-18 | Jesus a chama pelo nome, e ela o reconhece. |
Aos discípulos no caminho de Emaús | Lucas 24:13-35 | Jesus explica as Escrituras, e eles o reconhecem ao partir o pão. |
Aos onze apóstolos (sem Tomé) | João 20:19-23 | Jesus aparece no cenáculo, mostrando suas feridas. |
Aos onze (com Tomé) | João 20:24-29 | Tomé duvida, mas crê ao tocar nas chagas de Jesus. |
Aos discípulos no mar da Galileia | João 21:1-14 | Jesus prepara um café da manhã para eles após uma pesca milagrosa. |
A mais de 500 pessoas | 1 Coríntios 15:6 | Uma aparição pública, reforçando a historicidade do evento. |
A Ascensão de Jesus (Atos 1:9-11)
Após suas aparições, Jesus subiu aos céus na presença dos discípulos, prometendo enviar o Espírito Santo (Pentecostes) e declarando que um dia voltará da mesma forma.
Milagres Associados à Ressurreição
A ressurreição não foi um evento isolado, mas foi acompanhada por fenômenos sobrenaturais que confirmaram sua natureza divina:
O Terremoto e a Abertura dos Túmulos (Mateus 27:51-53)
No momento da morte de Jesus, o véu do templo se rasgou, e muitos santos falecidos ressuscitaram e apareceram em Jerusalém.
A Transformação do Corpo de Jesus
- Seu corpo ressuscitado podia atravessar paredes (João 20:19), mas também comer peixe (Lucas 24:41-43).
- Mantinha as marcas da crucificação (João 20:27), provando que era o mesmo Jesus.
A Conversão de Inimigos
- Saulo de Tarso (Paulo), um perseguidor da Igreja, converteu-se após um encontro com Jesus ressurreto (Atos 9:1-9).
- O centurião romano que presenciou a crucificação declarou: “Verdadeiramente, este era o Filho de Deus!” (Mateus 27:54).
O Impacto Teológico da Ressurreição
A ressurreição não foi apenas um milagre, mas a base da teologia cristã:
1. Confirmação da Divindade de Cristo (Romanos 1:4)
- Se Jesus não tivesse ressuscitado, sua morte seria apenas mais uma execução romana.
- A ressurreição validou suas afirmações de ser o Filho de Deus.
2. Vitória sobre a Morte e o Pecado (1 Coríntios 15:54-57)
- “Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”
- A ressurreição garante que os crentes também ressuscitarão.
3. Fundamento da Pregação Apostólica (Atos 2:22-36)
- No Pentecostes, Pedro pregou que Deus ressuscitou Jesus, e isso levou 3.000 pessoas à conversão.
4. Base da Esperança Cristã (1 Pedro 1:3)
- A ressurreição assegura a vida eterna e a futura ressurreição dos mortos.
Como a Ressurreição Transformou os Discípulos e a Igreja Primitiva
Antes da ressurreição, os discípulos estavam amedrontados e desesperançados. Após o evento, tornaram-se corajosos pregadores, dispostos a morrer por sua fé.
Mudanças Radicais
- Pedro, que negou Jesus três vezes, pregou destemidamente no Pentecostes.
- Tiago, que antes duvidava (João 7:5), tornou-se líder da Igreja em Jerusalém.
- Paulo, perseguidor da Igreja, tornou-se o maior missionário cristão.
Expansão do Cristianismo
- Em poucas décadas, a mensagem da ressurreição se espalhou do Império Romano até a Índia.
- Os mártires morriam cantando hinos, certos de que ressuscitariam.
A Ressurreição Como Eixo da Fé Cristã
A ressurreição de Jesus não é apenas um dogma religioso, mas um evento histórico com implicações eternas. Ela:
✅ Confirmou o poder de Deus sobre a morte.
✅ Transformou discípulos covardes em mártires corajosos.
✅ Fundamentou a pregação cristã por dois milênios.
Como escreveu o apóstolo Paulo:
“Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã a vossa fé.” (1 Coríntios 15:14)
A Páscoa cristã celebra essa vitória, lembrando-nos que, assim como Cristo ressuscitou, todos os que creem nele também viverão para sempre.
Tradições da Páscoa ao Redor do Mundo

A Páscoa é celebrada de diversas formas, mesclando religião e folclore:
Europa
- Itália: Procissões dramáticas da Via Crucis.
- Grécia: “Procissão da Luz” na Sexta-Feira Santa.
- Alemanha: Osterbaum (árvores decoradas com ovos).
Américas
- Brasil: Encenações da Paixão de Cristo (como em Nova Jerusalém-PE).
- Estados Unidos: Easter Egg Roll na Casa Branca.
Outras Tradições
- Ovos de Páscoa: Simbolizam renascimento (origem pagã adaptada).
- Coelho da Páscoa: Representa fertilidade (tradição germânica).
A Lenda de São Longuinho
Segundo a tradição, São Longuinho era o soldado romano que perfurou o lado de Jesus com uma lança (João 19:34). Diz-se que ele era cego de um olho e, ao ser atingido pelo sangue de Cristo, foi curado e converteu-se.
Por que São Longuinho é invocado para achar objetos perdidos?
No Brasil, uma crença popular diz que, ao perder algo, deve-se gritar três vezes:
“São Longuinho, São Longuinho, São Longuinho, se me ajudar a encontrar [objeto], dou três pulinhos!”
Acredita-se que ele ajuda a encontrar coisas perdidas, talvez por ter “enxergado” a verdade após sua conversão.

Conclusão
A Páscoa é uma celebração que transcende religiões e culturas, unindo história, fé e renovação. Desde o Pessach judaico até a ressurreição cristã, ela simboliza libertação, sacrifício e esperança.
Seja através dos ritos religiosos, das tradições familiares ou das curiosidades como a de São Longuinho, a Páscoa continua a inspirar milhões, lembrando-nos do poder da fé, da redenção e da vida que sempre renasce.
Feliz Páscoa! 🕊️✝️🐣
Fonte: Bíblia Sagrada
Carta Apostólica de São João Paulo II sobre a Páscoa
Confederação Israelita do Brasil