Atualização do texto originalmente publicado em 13 de Outubro de 2019 por Jason Guedes
Índice
Civilizações nas Américas Antes da Chegada dos Europeus
Antes da chegada dos europeus às Américas, o continente já abrigava grandes civilizações com um nível impressionante de desenvolvimento cultural, científico e tecnológico, chamados de Povos Pré-Colombianos. As civilizações que se destacavam não eram apenas sociedades primitivas, mas culturas complexas, com economias estruturadas, sistemas de escrita, grandes obras de engenharia e uma profunda conexão com suas terras e espiritualidades. Acredita-se que, antes do contato com os europeus, as Américas possuíam uma população de mais de 5 milhões de habitantes, além de inúmeros povos indígenas espalhados por todo o continente, cada um com suas próprias línguas, tradições e organizações sociais.
Diversidade Cultural no Brasil com os Povos Pré-Colombianos
No que hoje conhecemos como Brasil, os povos indígenas estavam espalhados por todo o território, com um número estimado de mais de 20 diferentes grupos étnicos. Cada um desses povos possuía suas próprias línguas e práticas culturais, o que dava uma rica diversidade à região. A língua portuguesa, que viria a ser a principal língua do Brasil, era completamente desconhecida nesse período. Em vez disso, as terras brasileiras eram habitadas por centenas de línguas nativas, e cada povo desenvolvia suas próprias formas de organização social, agricultura e práticas espirituais.
Os grupos indígenas brasileiros eram diversos, desde caçadores e coletores nas regiões mais isoladas até os agricultores avançados que habitavam a região amazônica. Esses povos tinham uma forte ligação com a natureza, muitas vezes construindo suas casas e vilarejos de acordo com os ciclos naturais e com a geografia local. Além disso, muitos deles eram excelentes artesãos, criando potes, cestas e tecidos com uma riqueza de detalhes impressionante.
As Três Grandes Civilizações da América
Ao longo do continente americano, as civilizações mais avançadas antes da chegada dos europeus – também chamadas de povos pré-colombianos foram os Maias, os Astecas e os Incas. Cada uma dessas culturas contribuiu de maneira única para o desenvolvimento humano, com grandes feitos nas áreas de matemática, astronomia, arquitetura e agricultura. Quando os exploradores europeus chegaram às Américas, foram confrontados com sociedades complexas e cidades impressionantes, que mais tarde seriam marcadas pela conquista e destruição, mas também pela resistência e pela preservação de suas culturas.
Os Maias
A civilização Maia se desenvolveu em uma vasta região que inclui partes do México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador. A sociedade maia era composta por várias cidades-estados independentes, com suas próprias dinastias e governantes. Embora os Maias não tivessem um império unificado, sua cultura era profundamente interligada e suas cidades compartilhavam muitas características em termos de organização social e avanços tecnológicos.
A agricultura era a base da economia maia, com destaque para o cultivo do milho, o que era de extrema importância para sua alimentação e para o desenvolvimento de suas cidades. Eles também cultivavam algodão, cacau, agave e outros produtos, com técnicas de cultivo que utilizavam o sistema de rotação de terras, permitindo maior produtividade e sustentabilidade.
O sistema de escrita maia, que utilizava hieróglifos, é um dos legados mais impressionantes dessa civilização. Os Maias também eram conhecidos por seus conhecimentos avançados em matemática e astronomia. Criaram um calendário extremamente preciso e observaram os ciclos celestes com uma precisão que surpreende até hoje. A prática religiosa dos Maias envolvia cerimônias complexas, muitas das quais incluíam sacrifícios humanos e a construção de monumentos imponentes, como pirâmides e templos.
A civilização maia começou a declinar por volta do século XIII, um evento que permanece envolto em mistério. Alguns historiadores acreditam que isso tenha sido causado por fatores como mudanças climáticas, guerras internas e exaustão dos recursos naturais.
Os Astecas
Os Astecas, por sua vez, construíram um império em uma região que hoje corresponde ao México central. Sua capital, Tenochtitlán, era uma cidade impressionante, localizada no meio de um lago, e possuía uma infraestrutura avançada para a época, com canais e pontes que facilitavam o transporte e o comércio. A cidade foi fundada com base em uma lenda que descrevia a visão de um deus que indicava o local ideal para o estabelecimento da cidade.
O império asteca era altamente hierárquico e militarizado, com uma forte ênfase na conquista e na expansão territorial. A agricultura era uma das principais fontes de sustento, e o sistema de chinampas, que consistia na construção de ilhas artificiais no lago, permitia um cultivo eficiente e abundante.
A religião asteca também estava centrada em sacrifícios humanos, realizados para apaziguar os deuses e garantir a continuidade da vida no mundo. Eles acreditavam que o sol precisava ser alimentado com o sangue dos sacrifícios para que continuasse a brilhar. Isso estava relacionado à sua visão cíclica do tempo e ao papel dos sacrifícios no equilíbrio cósmico.
O império asteca chegou ao fim com a chegada dos conquistadores espanhóis em 1519, liderados por Hernán Cortés. Apesar da resistência feroz dos astecas, a combinação de doenças trazidas pelos europeus, alianças com povos inimigos e a superioridade militar dos conquistadores levou à queda do império.
Os Incas
A civilização Inca floresceu na região da Cordilheira dos Andes, abrangendo o que hoje são países como Peru, Bolívia, Equador, Chile e Argentina. Os Incas criaram um império unificado, governado pelo “Inca”, considerado uma figura divina. Sua capital, Cusco, era o coração político e cultural do império, e a rede de estradas que ligava as diversas regiões do império facilitava a comunicação e o comércio.
Uma das maiores realizações dos Incas foi a sua incrível capacidade de cultivar em terrenos montanhosos. Desenvolveram técnicas agrícolas adaptadas à geografia local, como os terraços que permitiam o cultivo de diferentes tipos de alimentos em altitudes elevadas. O sistema de Mita, que exigia o trabalho coletivo em grande escala, foi fundamental para o sucesso agrícola e a construção de grandes obras públicas, como estradas e palácios.
Os Incas também eram mestres em engenharia, como é evidenciado pelas suas construções imponentes, incluindo Machu Picchu, uma das mais conhecidas e estudadas ruínas do mundo. No entanto, o império Inca também encontrou sua queda com a chegada dos conquistadores espanhóis, e a resistência, liderada por Tupac Amaru, não foi suficiente para impedir a dominação europeia.
Povos Pré-Colombianos ou Civilizações Nativas Americanas?
Embora a terminologia “povos pré-colombianos” seja amplamente utilizada para se referir às civilizações das Américas antes da chegada de Cristóvão Colombo, é importante questionar a adequação desse termo. Chamar essas civilizações de ” povos pré-colombianos” implica que elas só têm valor ou relevância a partir do momento em que os europeus chegaram. Essa perspectiva eurocêntrica muitas vezes obscurece a riqueza e a complexidade dessas culturas antes do contato com o “Velho Mundo”. Além disso, ao chamá-las de “nativas americanas”, reconhecemos que elas são parte integral da história e da identidade do continente, com legados que continuam a influenciar as populações indígenas até os dias de hoje.
Essas civilizações não foram apenas vítimas da colonização europeia, mas contribuíram profundamente para o mundo moderno, tanto em termos de conhecimento científico quanto em aspectos culturais. Sobre esta discussão, recomendamos o post feito por Mirna Wabi-Sabi no site Le Monde Diplomatique Brasil: O problema com o termo “pré-colombiano”