O Brasil possui a segunda maior reserva mundial de terras raras e está negociando parcerias estratégicas com os EUA para desenvolver sua cadeia produtiva. Esses acordos buscam atrair tecnologia e investimentos para transformar o país em produtor de bens com maior valor agregado, não apenas exportador de matéria-prima.
O Brasil já possui uma mineradora de terras raras, mas você sabia que ela é controlada por fundos dos EUA e exporta principalmente para a China? Esses elementos são vitais para tecnologias verdes, mas o caminho não está livre de desafios.
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ToggleA única mineradora de terras raras no Brasil
A única mineradora de terras raras em operação no Brasil fica no interior de Minas Gerais, na cidade de Araxá. A empresa, chamada Mineração Serra Verde, é controlada por fundos de investimento americanos, mas extrai e processa os minerais aqui mesmo.
As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos essenciais para tecnologias modernas. Eles são usados em turbinas eólicas, carros elétricos e até smartphones. Apesar do nome, não são exatamente ‘raros’, mas sim difíceis de extrair e processar.
A mina brasileira começou a operar em 2021 e já é considerada estratégica no mercado global. A produção ainda é pequena comparada a gigantes como China e EUA, mas o Brasil tem uma das maiores reservas do mundo desses minerais.
O processo de extração é complexo e exige cuidados ambientais. A empresa usa técnicas para reduzir impactos, como reaproveitamento de água e controle de resíduos. Mesmo assim, o setor enfrenta desafios para expandir a produção de forma sustentável.
Controle americano e exportação para a China
A mineradora de terras raras no Brasil é controlada por fundos de investimento dos Estados Unidos. Apesar disso, quase toda a produção é exportada para a China, maior processador mundial desses minerais estratégicos.
Os EUA têm interesse em reduzir a dependência da China nesse setor. Mas, ironicamente, sua própria empresa no Brasil acaba abastecendo o mercado chinês. Isso mostra como a cadeia global de terras raras é complexa.
A China domina mais de 80% do refino desses minerais. Por isso, mesmo matérias-primas de outros países acabam indo para lá. O Brasil exporta o concentrado bruto, perdendo a chance de agregar valor ao produto.
Especialistas alertam que o país poderia ter mais vantagem se processasse as terras raras aqui mesmo. Mas faltam investimentos em tecnologia e infraestrutura para isso acontecer em grande escala.
Desafios na produção e concentração dos elementos
Produzir terras raras no Brasil enfrenta vários desafios técnicos e econômicos. Os elementos estão misturados no minério e separá-los exige processos químicos complexos e caros.
Cada tonelada de minério rende apenas alguns quilos de elementos purificados. A concentração útil é tão baixa que às vezes não chega a 1% do material extraído. Isso encarece muito a produção.
Outro problema é que os 17 elementos raros quase nunca aparecem sozinhos. Eles vêm juntos no minério, mas cada um tem aplicações diferentes. Separar um do outro demanda tecnologia avançada que o Brasil ainda não domina completamente.
O processo também gera resíduos que precisam de tratamento especial. Sem soluções ambientais adequadas, a atividade pode causar danos. Por isso, os custos operacionais são altos comparados a outros tipos de mineração.
Impacto das terras raras em tecnologias verdes
As terras raras são essenciais para a revolução das tecnologias verdes. Sem esses elementos, não existiriam motores de carros elétricos tão eficientes nem turbinas eólicas de alto desempenho.
Um único carro elétrico pode usar até 10 kg de terras raras em seus componentes. Os ímãs superpotentes feitos com neodímio e disprósio são fundamentais para os motores desses veículos.
Nas turbinas eólicas, os mesmos ímãs garantem mais eficiência na geração de energia. Uma turbina média pode conter até 2 toneladas de materiais com terras raras em seu sistema.
Até as lâmpadas LED e painéis solares dependem desses elementos. O ítrio e o európio, por exemplo, são usados para criar a luz branca das lâmpadas econômicas que usamos hoje.
Dificuldades operacionais e suspensão temporária
A produção de terras raras no Brasil enfrentou problemas operacionais que levaram a uma paralisação temporária. A mineradora Serra Verde suspendeu as atividades em 2023 para ajustes técnicos e financeiros.
Os principais desafios foram os altos custos de energia e insumos químicos. O processo de separação dos elementos consome muita eletricidade e produtos químicos especiais, que tiveram aumento de preço.
Outra dificuldade foi a logística para escoar a produção. Como a mina fica no interior de Minas Gerais, o transporte até os portos encarece o produto final. Isso reduziu a competitividade no mercado internacional.
A empresa afirma que a suspensão foi preventiva. Eles querem reorganizar o processo para voltar mais fortes. A previsão é retomar as operações com melhor eficiência e menor impacto ambiental.
Preços e competitividade no mercado global
Os preços das terras raras variam muito no mercado global. A China, que domina o setor, consegue oferecer preços mais baixos devido à sua escala de produção. Isso dificulta a competitividade de outros países.
O Brasil enfrenta desafios para competir nesse mercado. Nossos custos de produção são mais altos por causa da energia cara e da falta de infraestrutura especializada. Mesmo assim, temos uma das maiores reservas do mundo.
Nos últimos anos, os preços subiram por causa da alta demanda. Carros elétricos e turbinas eólicas estão usando cada vez mais esses minerais. Essa tendência pode ajudar projetos brasileiros a se tornarem viáveis.
Especialistas dizem que o segredo está em agregar valor. Em vez de vender apenas o minério bruto, o país poderia processar os materiais aqui. Isso aumentaria muito o lucro e a importância estratégica do Brasil nesse mercado.
Agregação de valor e desenvolvimento no Brasil
O Brasil tem enorme potencial para agregar valor às terras raras em seu território. Atualmente, exportamos o minério bruto e perdemos a chance de ganhar mais com produtos processados.
Investir em plantas de beneficiamento poderia transformar nossa economia. Em vez de vender matérias-primas, poderíamos exportar ímãs especiais ou ligas metálicas prontas para indústrias.
Alguns projetos já mostram esse caminho. No Pará, pesquisadores desenvolvem técnicas para purificar os elementos aqui mesmo. Isso gera empregos qualificados e tecnologia nacional.
O desafio é atrair investimentos para construir fábricas completas. Com isso, o Brasil deixaria de ser apenas fornecedor de matéria-prima. Poderíamos participar das cadeias globais de alta tecnologia.
Esse salto exigiria parcerias entre governo, empresas e universidades. Mas traria desenvolvimento para regiões mineradoras e colocaria o país no mapa da inovação.
Interesse dos EUA em minerais estratégicos
Os Estados Unidos estão de olho nos minerais estratégicos do Brasil. Eles querem reduzir sua dependência da China, que domina o mercado de terras raras no mundo todo.
O governo americano já fechou acordos para garantir o fornecimento desses materiais. Eles são essenciais para fabricar celulares, carros elétricos e equipamentos militares.
Empresas dos EUA estão investindo em minas brasileiras. O interesse é tão grande que já existem projetos de cooperação tecnológica entre os dois países.
Especialistas dizem que essa parceria pode ser boa para o Brasil. Além de trazer dinheiro, pode ajudar a desenvolver nossa tecnologia para processar os minerais aqui mesmo.
Mas é preciso cuidado para não virarmos apenas fornecedores de matéria-prima. O ideal é que o país também ganhe conhecimento e empregos de qualidade com esses acordos.
BNDES e projetos de crédito para o setor
O BNDES está criando linhas de crédito especiais para o setor de terras raras. O banco quer ajudar empresas brasileiras a explorar esses minerais de forma sustentável.
Os financiamentos podem chegar a R$ 500 milhões para projetos inovadores. O dinheiro serve para comprar equipamentos, fazer pesquisas e montar fábricas de processamento.
As taxas de juros são mais baixas que as do mercado. Isso ajuda as empresas a investirem na produção nacional desses materiais tão importantes.
Para conseguir o crédito, os projetos precisam mostrar benefícios ambientais e sociais. O BNDES prioriza iniciativas que gerem empregos e protejam a natureza.
Essa é uma chance para o Brasil deixar de exportar minério bruto. Com o apoio do banco, podemos vender produtos com maior valor agregado.
Negociações com os EUA e o papel do Brasil
As negociações entre Brasil e EUA sobre terras raras estão ganhando força. Os americanos querem diversificar suas fontes desses minerais estratégicos, reduzindo a dependência da China.
O Brasil tem a segunda maior reserva mundial desses materiais. Isso coloca nosso país numa posição importante no mercado global. Mas precisamos negociar com cuidado para não ficar só como fornecedor de matéria-prima.
O governo brasileiro está buscando parcerias que tragam tecnologia e investimentos. A ideia é que os EUA ajudem no desenvolvimento da nossa cadeia produtiva, não apenas na extração.
Especialistas alertam que o acordo deve beneficiar os dois lados. O Brasil pode ganhar com transferência de tecnologia e criação de empregos qualificados no setor.
As conversas incluem também questões ambientais. Os EUA querem garantir que a produção siga padrões sustentáveis, o que pode tracer vantagens para o Brasil.
O futuro das terras raras no Brasil
As negociações com os EUA representam uma grande chance para o Brasil avançar no setor de terras raras. Temos a oportunidade de ir além da simples exportação de minérios.
Com os investimentos certos e parcerias estratégicas, podemos desenvolver tecnologia e criar empregos de qualidade. O caminho é transformar nossa matéria-prima em produtos com maior valor agregado.
Os exemplos mostram que, quando bem planejado, esse setor pode trazer desenvolvimento sustentável. O Brasil tem tudo para se tornar um player global nesse mercado tão importante.
O momento é agora de aproveitar esses recursos naturais com inteligência e visão de futuro.
Fonte: Folha de S.Paulo