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O Carnaval carioca é apresentado ao mundo como sendo "o maior espetáculo de rua do planeta", os desfiles e blocos carnavalescos acontecem anualmente entre os meses de fevereiro e março - com exceção de 2021 quando não teve carnaval devido a Pandemia de Covid-19 e em 2022 que apenas tivemos o desfile das escolas de samba no mês de Abril.

Mas apesar das fantasias, da alegria, das músicas, da aglomeração, dos abraços, danças, brigas e beijos, é preciso uma organização e uma harmonia para que todos possam festejar curtir e não incomodar. Por isso desde o início da celebração do carnaval como vemos hoje, o Estado organiza em conjunto com os foliões e carnavalescos as ruas e avenidas que os blocos e os desfiles devem acontecer.

Porém desde 1984 os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro (do Grupo de Acesso ou do Grupo Especial) são apresentados na passarela professor Darcy Ribeiro.

Mais vale errar se arrebentando do que poupar-se para nada.
- Darcy Ribeiro -

Assim como o Estádio Mário Filho (chamado popularmente de Maracanã), esse novo local para eventos recebeu um nome oficial e foi modificado pelo hábito popular. Na época o próprio Darcy Ribeiro renomeou a Rua Marquês de Sapucaí para Sambódromo, recebendo homenagem em seu nome décadas depois. Sendo assim o Rio de Janeiro passa a ser a primeira cidade no mundo a ter um espaço dedicado aos desfiles do Maior Espetáculo de rua do planeta.

Anteriormente a este período os desfiles ocorriam na Avenida Presidente Vargas no centro da cidade, mas devido as obras do metrô na década de 1970, as escolas e agremiações precisavam mudar o palco das apresentações do carnaval. Com isso a prefeitura do Rio de Janeiro organizou uma rua alternativa para o evento e não agradou os carnavalescos e nem o público.

Devido ao avanço das obras no metrô essa rua alternativa precisou ser fechada, por isso os desfiles oficiais das escolas de samba voltaram para a principal Avenida da cidade. Não contente com essas mudanças que afetavam o trânsito do centro urbano do Rio, o governo, as escolas e agremiações buscavam uma alternativa para os desfiles.

Encontraram em uma das transversais da Avenida Presidente Vargas uma alternativa, a rua Marquês de Sapucaí que liga o bairro Cidade Nova ao bairro Catumbi e fica próxima a Praça XI (Local onde os desfiles começaram).

A partir de 1979 os desfiles ocorreriam nesta rua e a ideia original era iniciar o desfile no Catumbi e encerrá-lo na Avenida Presidente Vargas, para facilitar o escoamento do sambistas e foliões para a central do Brasil, o que só foi executada naquele ano.

Vale observar que o Marquês de Sapucaí não tem nenhuma relação com o carnaval ou com o samba. Cândido José de Araújo Viana foi Ministro da Fazenda, Ministro da Justiça, Conselheiro de estado, Presidente das províncias do Alagoas e do Maranhão, foi nomeado mestre da literatura e ciências positivas por Dom Pedro II e foi professor da Princesa Isabel.

Nascido no século XVIII em Minas Gerais e falecendo no Rio de Janeiro no século XIX, o seu maior feito histórico ainda permanece para a república brasileira, o Marquês de Sapucaí foi o criador da lei que dá aos senadores o tratamento solene de "Sua Excelência".
O bairro do Catumbi era basicamente residencial e construído com ruas estreitas, o que dificultava a entrada de alegorias e carros alegóricos. Além disso a estrutura montada anteriormente na Avenida Presidente Vargas também era montada na Rua Marquês de Sapucaí - eram três meses de montagem mais três meses para desmontar.

Ouça o samba enredo da Beija-flor em homenagem ao Marquês, interpretado por Neguinho da Beija-flor em 2016. Ouça agora na Amazon Music

Logo no primeiro ano de desfiles no novo Palco, ficou claro que o sentido deveria ser invertido para que os carros alegóricos chegassem até o local pela Avenida Presidente Vargas e a dispersão seria feita no bairro de ruas menores. O que também agradava moradores do bairro que ficavam incomodados com tantos sambistas, carros alegóricos falação e até a confusão própria do carnaval.

Com isso a partir de 1980, já com o sentido do desfile alterado, as organizações do carnaval passam a perceber a necessidade de uma fixação neste local e o poder público desenvolve um projeto de autoria do Vice-Governador Darcy Ribeiro e do maior arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, para concretizar a rua Marquês de Sapucaí como o grande palco dos desfiles de carnaval.

Niemeyer aproveitou o projeto e desenvolveu a grande Praça da Apoteose para que as escolas de samba fizessem o final do desfile com algumas modificações, porém as agremiações e escolas de samba não gostaram nada da ideia da praça e passaram a dar a ela um novo sentido, ali seria o local de dispersão para que o sambistas e foliões pudessem seguir de uma forma mais organizada pelas ruas do bairro Catumbi.

A obra começou em 1983 e foi inaugurada em 1984, como já dito aqui ela foi batizada pelo professor Darcy Ribeiro como Sambódromo, porém a obra não foi finalizada naquele ano. Pois havia a gigantesca edificação da fábrica da cerveja Brahma.

A antiga fábrica era patrimônio tombado pelo município do Rio de Janeiro, mas devido à modernização da cidade para os jogos olímpicos de 2016, o prédio foi detonado e finalmente foi demolido assim como todas as casas e comércios que haviam em volta da Rua Marquês de Sapucaí lá em 1978.

Finalmente em 2011 com a demolição da fábrica foi possível construir novas arquibancadas que estavam previstas no projeto original e foram entregues com a presença do arquiteto Oscar Niemeyer em 2012. Inclusive mudando o nome do espaço para Passarela Professor Darcy Ribeiro. Com capacidade para 80 mil pessoas, 40 mil a menos que o projeto original.

O idealizador do projeto também queria que o espaço fosse utilizado para diversos eventos culturais e para educação, atingindo principalmente as camadas menos favorecidas da sociedade carioca. Mas de fato o local acaba sendo mais movimentado durante o carnaval. Infelizmente os espaços gratuitos foram tomados por áreas cobradas ao longo dos anos.

A apoteose já foi utilizada inúmeras vezes para outros fins culturais, como feiras e espetáculos internacionais. O seu grande símbolo desenhado por Niemeyer representa as curvas das sambistas em um grande monumento que esconde um pequeno museu do samba e ao longo do ano é usado como escola.

A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto.
- Darcy Ribeiro -