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11 mai 2019

Urnas da Amazônia Antiga foram transportadas para estudos na UFOPA

Imprimir em PDF | História do Brasil Por: Jason Jr. Comentários

9 urnas mortuárias de aproximadamente 500 anos foram encontradas durante escavações na comunidade rural Tauary, no interior do Amazonas. Sendo uma das primeiras vezes que este tipo de artefato arqueológico é desenterrado no Brasil, retiradas do solo preservando seu contexto original de aterramento.

Os pesquisadores costumam recebê-las da mão de moradores do local, que de fato encontram os artefatos e os retiram da terra. Agora, escavar e encontrar uma cova com as urnas dessa cultura, do jeito que estavam, e realizar todo o registro científico, é algo inédito", explica o arqueólogo Eduardo Kazuo.

As urnas fazem parte de um conjunto estilístico e cultural de cerâmicas arqueológicas que possuem registros datados de 1400 anos e podem ser encontrados entre as Cordilheiras dos Andes até o Rio Amazonas. Este conjunto recebe o nome de Tradição Policroma da Amazônia.

Arqueologos com Vasos da Amazonia

A descoberta aconteceu em julho do ano passado e foi revelada pelo grupo de pesquisadores do Instituto Mamirauá, que responde diretamente ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). Mas após a descoberta, os pesquisadores precisavam transportar as urnas para a sede do Instituto em Tefé (AM), levando 3 horas a bordo de um “batelão”, um tipo de embarcação a motor característica de região.

As peças percorreram mais de mil e duzentos quilômetros de distância, passando por algumas embarcações nos rios amazonenses e caminhonetes de apoio do Museu da Amazônia. Atravessando 3 cidades e levando 5 dias para chegarem ao seu destino, o laboratório de pesquisa da Universidade do Oeste do Pará.

O transporte só foi autorizado em fevereiro de 2019 pelo Instituto do Patrimonio Histórico e Artistico Nacional (IPHAN), mas durante o período que os pesquisadores aguardavam esta autorização eles mantiveram as peças preservadas nas temperaturas adequadas e desenvolveram embalagens de madeira especificamente para prevenir o impacto e demais problemas que poderiam ser causados durante a futura longa viagem.

“As urnas foram armazenadas no Laboratório de Arqueologia do Instituto Mamirauá, em um ambiente controlado e mantidas em temperatura constante durante alguns meses. Nesse período, elas passaram pelo parecer de uma conservadora e preparamos o transporte para a UFOPA” - Márcio Amaral, arqueólogo do Instituto Mamirauá.

O material arqueológico foi escoltado, por todo o percurso, pelos arqueólogos Marcio Amaral e Emanuella Oliveira que encaixotaram as urnas e partiram do porto de Tefé em uma embarcação de 3 andares para Manaus, pelos rios Solimões e amazonas. Durante os 3 dias de viagem os caixotes ficaram guardados em uma suíte com clima refrigerado, mantendo as condições adequadas para as peças.

Ao chegarem em Manaus eles receberam a colaboração do Museu da Amazônia (MUSA) que enviou duas caminhonetes para fazer a troca de embarcação, que seguiu diretamente para Santarém, no interior do Pará, onde fica o laboratório da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). Com mais dois dias de viagem as urnas de cerâmica finalmente desembarcaram e foram recebidas pela arqueóloga Anne Rapp Py-Daniel, responsável pelas pesquisas na Universidade.

Vasos da Amazonia

“Para a nossa felicidade, todo material chegou como saiu daqui: em perfeitas condições, sem quebra ou deslocamento de peças. Nesse sentido, foi um sucesso muito grande o transporte” - Márcio Amaral.

E enfim os 9 artefatos foram conduzidos para o laboratório, onde passaram por inúmeras pesquisas, ainda não sabemos se todos os vasos são urnas funerários ou se existe entre eles vasos de acompanhamento.

"As urnas funerárias fazem parte das práticas mortuárias de muitos grupos indígenas. Elas eram mais comuns no passado, mas ainda há relatos de alguns sepultamentos em épocas recentes sendo feitos em urnas, mas também em cestarias ou redes. Elas são muito variadas e estão intimamente ligadas às crenças e religiões praticadas, parecido com o que é praticado nos cemitérios das cidades" - Anne Rapp Py-Daniel, arqueóloga especialista em análises de vestígios ósseos arqueológicos

A previsão é que os vasos fiquem em Santarém por 2 anos para pesquisas aprofundadas, vale lembrar que uma das urnas foi aberta ainda na comunidade que elas foram encontradas, para mostrar a população que dentro delas havia apenas ossos e terra. Os trabalhos de pesquisa, preservação e conservação continuarão na Universidade Federal do Oeste do Pará e todos os objetos encontrados dentro das urnas passaram por estudos e catalogação assim como as próprias urnas.  A Dr.ª Anne Rapp Py-Daniel está atualmente orientando uma estudante de Mestrado da Universidade do Amazonas que está pesquisando as peças e acredita que outros pesquisadores possam se interessar pelo trabalho e colaborem na pesquisa.

“Todas as urnas estão cheias de terra, então temos que esvaziá-las lentamente e tentar identificar o que está dentro delas” - Anne Rapp Py-Daniel, responsável pelas Urnas na Universidade do Oeste do Pará

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