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Este artigo trata de um momento delicado na história do povo afro-americano nos Estados Unidos da América, os acontecimentos de Tulsa receberam novamente atenção quase 100 anos depois do massacre. Em 2020 alguns fatos aconteceram para que parte da população relembrar se as mortes de Greewood, mas a maioria dos estadunidenses só descobriram sobre o atentado neste ano, pois o tema foi representado em duas séries do canal HBO, primeiramente em Watchmen, e está sendo discutido em várias esferas da sociedade Americana.
A partir do dia 25 de maio, com o estrangulamento e a morte de George Floyd por um policial branco que ajoelhara em seu pescoço, começaram os protestos e debates sobre a violência policial nos Estados Unidos contra a população afro-americana, lembrando que este não foi um caso isolado na história dos Estados Unidos da América.
Em meio aos protestos a Casa Branca tomou algumas decisões controversas contra os protestos, com a campanha eleitoral de Donald Trump em ação o presidente decidiu começar a seus comícios pela cidade de Tulsa em Oklahoma, o que gerou alguns protestos e o fenômeno do uso do TikTok por jovens americanos para burlar a campanha deste candidato na cidade que sofreu o maior massacre racista da história Americana.
Muitos não conheciam a história da cidade, muito menos a triste história ocorrida em 1921, acreditando que o uso do TikTok para combater a campanha de Donald Trump na cidade foi uma manobra feita por jovens que estão sendo manipulados pelo governo chinês, claramente aqueles que acreditavam nesta Teoria da Conspiração não tinham ideia do sofrimento passado pelos afro-americanos em Tulsa.
As escolas não ensinam sobre o massacre, a comunidade negra local não gosta de tocar no assunto e prefere mantê-lo no passado para seguir a reconstrução de sua comunidade, a população branca tem vergonha do que aconteceu e esconde os fatos, por isso os livros de história nos Estados Unidos raramente mencionaram caso ao longo desses 99 anos.
Em 1921 a cidade de Tulsa em Oklahoma era considerada uma das mais prósperas nos Estados Unidos, mas mesmo assim os negros ficavam restritos na maior parte do tempo no bairro de Greenwood onde prosperaram e construíram uma comunidade economicamente forte e estável, com a presença advogados e médicos (incluindo o maior cirurgião negro dos Estados Unidos), o bairro recebeu o apelido de Wall Street Negra por seu avanço econômico.
Vale lembrar que aqueles que trabalhavam o centro da cidade tinham inúmeras restrições, como por exemplo, só havia um banheiro público para negros que ficava no edifício Drexel Building. Nesse momento os Estados Unidos viviam algo muito semelhante ao Apartheid sul-africano e os negros tinham espaço restrito na sociedade e sofriam com a segregação racial.
A história do massacre começa exatamente por causa deste banheiro público no Drexel Building, quando em 30 de maio de 1921 o engraxate Dick Rowland de apenas 19 anos decidi pegar o elevador do edifício e a ascensorista branca Sarah Page emitiu um grito. A partir deste momento a polícia foi chamada ao local e levou o jovem preso por tentativa de abuso sexual, mesmo sem testemunhas ou provas, vários jornais publicaram que haveria linchamento de negros naquela noite por causa deste caso (publicações que desapareceram dos registros oficiais).
Na delegacia local uma multidão de brancos armados se dirigiu ao xerife pedindo a execução do jovem engraxate, mas o comandante da polícia se recusou a entregar o prisioneiro, quando a notícia chegou em Greenwood dezenas de homens foram até a cadeia local para proteger Rowland, alguns deles eram veteranos da primeira guerra e possuíam armas de fogo, porém o auxílio deles na proteção do colega foi recusada pelo xerife local.
De acordo com o historiador especializado no tema e escritor do livro Morte em uma terra prometida: o tumulto racial de Tulsa em 1921(não publicada em português), Scott Ellsworth, quando os negros estavam indo embora, um homem branco tentou desarmar um veterano negro, e um tiro foi disparado. Dando inicio ao tumulto generalizado.
No cair da noite do dia 30 os bancos revoltados passaram a atirar contra casas e pessoas negras pela cidade, mesmo estando próximos à delegacia local os policiais nada fizeram para conter os ataques, mas se direcionaram para os bairros brancos da cidade para protegê-los do avanço dos radicais. Na madrugada do dia primeiro de junho a multidão de milhares de brancos finalmente se dirigiu ao bairro negro de Greenwood.
Naquele mesmo dia algumas pessoas já haviam recebido a notícia do que estava acontecendo no centro da cidade e começaram a se preparar para caso a violência chegasse ao bairro, incluindo a escola para negros local que cancelou o baile dos jovens temendo uma retaliação da comunidade branca.
Naquela madrugada, segundo testemunhas, os brancos queimaram casas e lojas de negros bem sucedidos, roubaram objetos de valor e destruíram todo o resto. Aqueles que tentavam fugir das chamas eram assassinados. Há relatos do uso de uma metralhadora montada e aviões para bombardear o bairro, mesmo assim o corpo de bombeiros e a polícia (que eram compostos quase exclusivamente por brancos) não atenderam aos chamados de emergência. Algumas figuras proeminentes no bairro foram assassinadas a sangue frio, como o cirurgião A. C. Jackson.
Somente às 9 horas da manhã, após 18 horas de Massacre, a guarda nacional de Oklahoma chegou ao local para combater os revoltosos e conter a violência, mas a chamada Wall Street Negra já havia se tornado cinzas.
Somente no século XXI pesquisas foram levantados para identificar aproximadamente quantas pessoas foram mortas no bairro, pois só era possível afirmar 39 mortos, mas existem estimativas que chegam a mais de 300 vítimas, de acordo com algumas testemunhas vários desses corpos foram jogados em valas comuns ou dentro do Rio Arkansas. Algumas escavações feitas por uma equipe de arqueólogos tiveram início em outubro de 2020 e já encontraram restos humanos.
Temos um indivíduo confirmado e a possibilidade de um segundo. Ainda estamos em processo de análise desses restos com o melhor de nossa capacidade. ... Não temos muitos detalhes. arqueóloga Kary Stackelbeck
Muitas famílias nunca se recuperaram, mesmo assim estavam determinadas a continuar em Tulsa, em apenas quatro anos já haviam reconstruído o bairro completamente. Os moradores locais tiveram um prejuízo de quase dois milhões de dólares na época, mas não receberam as indenizações pelas seguradoras nem pelo governo , pois as autoridades locais culpavam os negros pela violência e nenhum dos brancos sofreu julgamento. Vale lembrar que a história começou com Sarah Page que retirou as acusações contra Dick Rowland no dia seguinte.
Uma das últimas Sobreviventes do ataque, hoje com 105 anos lidera os processos por reparação, Lessie Benningfield “Mother” Randle. O processo foi aberto no dia primeiro de setembro de 2020 no Condado de Tulsa pelo grupo de advogados de direitos civis nomeados de Justiça para Greenworld Advogados. Porem, consultada pela CNN, a cidade de Tulsa afirma que não vai comentar assuntos que ainda estão pendentes mesmo após quase 100 anos.
No processo é afirmado que os moradores sofreram de 50 a 100 milhões de dólares de prejuízos causados pelo massacre e pede a criação de um fundo de compensação pela perda financeira e de propriedade, que deveria ter sido feito em 1921, e um fundo para faculdade para os descendentes das vítimas do massacre, além da construção do hospital e a prioridade na contratação de moradores de Greenwood na cidade.
Com o avanço dos protestos do Black lives Matter nos Estados Unidos alguns holofotes se direcionaram para a história da Wall Street Negra, a própria HBO produziu a série Lovecraft Country mostrando em uma trama de fantasia toda a repressão à comunidade afro-americana nos Estados Unidos em 1950 e também traz a noite do massacre de Tulsa de 1921. Mas não é só este canal que está produzindo materiais sobre o tema.
Atualmente existem cerca de 3 projetos sobre o atentado de Oklahoma, a cineasta Dream Hamptom está produzindo uma minissérie, a produtora Spring Hill de LeBron James está produzindo um documentário e outro astro da NBA que jogou 11 anos pelo Oklahoma City Thunder, Russell Westbrook está produzindo um documentário intitulado O terror em Tulsa: Ascensão e a queda da Wall Street Negra.
Em 2020, antes da morte de George Floyd, o vice-presidente de desenvolvimento da Trailblazer Studios, Ashleigh Di Tonto tentou apresentar uma minissérie documental mas foi recebido com indiferença.
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